sábado, 8 de agosto de 2009

Os evangélicos não são mais os mesmos

Até uns 15 anos atrás, as palavras "protestante", "evangélico" e "crente" eram sinônimas.

No Rio de Janeiro, "os bíblias" era como designavam os religiosos conhecidos por andarem sempre com uma Bíblia debaixo do braço na ida e volta aos templos. Os quatro termos significavam as denominações cristãs que tinham como sua única regra de fé e prática os 39 livros do Velho Testamento e os 27 do Novo Testamento, conjunto conhecido como "a Bíblia protestante".

Esta, por sinal, só diferia da chamada "Bíblia católica" porque nesta constam mais alguns livros, só no Velho Testamento, considerados apócrifos - leia-se, não-canônicos -, como o da Sabedoria, os dos Macabeus, o Eclesiástico, alguns capítulos do livro da rainha Ester e outros. Por não terem passado no crivo da Reforma Protestante do século 16, não constam da Bíblia editada pela Sociedade Bíblica do Brasil nem da Imprensa Bíblica Brasileira. E lamentavelmente nunca são lidos pelos protestantes, embora riquíssimos de conteúdo histórico e espiritual.
Hoje, porém, identificar um protestante como evangélico é uma temeridade.

NÃO SÃO IGREJAS, MAS EMPRESAS

Para se ter uma idéia, a ex-revista VINDE, atualmente chamada de ECLÉSIA, número 51, de fevereiro de 2000 se considera "a revista evangélica do Brasil" e mistura matérias com respeitáveis figuras da Assembléia de Deus, das Igrejas Batistas, Metodistas, Luteranas, Anglicanas, Congregacionais e Presbiterianas com organizações que, de Igrejas, não têm nada.

Tanto assim que, em reportagem de capa, na edição de janeiro deste ano, entrevistou Marcelo Crivella, da chamada "Igreja" Universal do Reino de Deus em várias páginas. Ora, esta "Igreja" não tem nenhuma característica do que seja uma Igreja Evangélica, eis que sua doutrina é fruto da criatividade de Edir Macedo e seus seguidores, usando a Bíblia como mero pretexto para suas colocações inventadas. O que ela prega nas mídia (a propósito, o singular desta palavra latina é MEDIUM, portanto, MEDIA é seu plural) é, por vezes, diametralmente oposto ao que lemos, cristalino, nos Evangelhos de Cristo.

Apenas um exemplo: essa pseudo-Igreja diz sempre, "Você está com seu bolso vazio? Venha para a 'Universal' e ficará com o bolso cheio". O Evangelho de Jesus, porém, diz o contrário: quando o moço rico perguntou ao Mestre o que deveria fazer para herdar a vida eterna, este lhe respondeu, em outras palavras: "Você está com o bolso cheio? Esvazie seus bolsos, dê tudo para os pobres e venha seguir-me para ter um tesouro nos céus".

NÚMERO DE ADEPTOS NÃO É CRITÉRIO PARA SABER SE UMA IGREJA É CRISTÃ

Quem ler estudos feitos com a maior seriedade sobre essa "Igreja", entre os quais a recém-publicada tese de doutorado em ciências da religião do meu ilustre colega da Igreja Presbiteriana Independente, reverendo Leonildo Silveira Campos, intitulada "TEATRO, TEMPLO E MERCADO: uma análise da organização, rituais, marketing e eficácia comunicativa de um empreendimento neopentecostal - Igreja Universal do Reino de Deus", fica horrorizado em vê-la considerada como "Igreja" e, principalmente, como "evangélica". Isto porque sempre se pensou em "evangélico" como um indivíduo reto e justo, de caráter íntegro e respeitado em sua comunidade. E pergunto: quem é que respeita essa "Igreja"? Quem a considera séria? A FOLHA DE SÃO PAULO" já publicou estatísticas estarrecedoras a respeito do baixíssimo conceito em que esse "empreendimento", como a classifica o douto teólogo, é tido pela sociedade, volta e meia ocupando as páginas policiais.

Se essa gente é "evangélica", então jamais quereria me identificar como "evangélico". Já deixei registrados na imprensa argumentos à exaustão para mostrar porque eles longe estão dos padrões doutrinários e morais dos que até há algum tempo eram devidamente chamados de evangélicos.

A imprensa, em geral, sempre confundiu alhos com bugalhos. Cansei-me de ver entidades religiosas como as Testemunhas de Jeová, os mórmons e os admiráveis adventistas catalogados como "evangélicos", o que não é correto.

O que nos entristece, entretanto, não é essa classificação equivocada. Ela, maiores consequências não teria porque são incluídas organizações diferentes na doutrina, porém respeitáveis. Aborrece-nos ver incluídas indústrias de religião no rol dos evangélicos, ouvir falar em bancada "evangélica" no Congresso referindo-se a gente que vive fazendo manobras interesseiras e egoístas, digladiando-se para conseguir emissoras de rádio e TV, longe de serem pessoas que honram o cristianismo pelo serviço ao próximo, sempre feito "sem que a mão direita saiba o que a esquerda faz".

É preciso hoje muito cuidado para não misturar os crentes verdadeiros com essas empresas de religião que confundem e enganam nossa população tão carente de Deus, e para não pensar que suas falsas doutrinas sejam válidas como verdadeiro alimento que a Palavra de Deus escrita nos dá e que fala ao nosso coração.

Jesus nunca usou marketing. E 2000 anos depois, Ele continua sendo uma inspiração para toda a humanidade. Não fez sucesso. Pelo contrário, morreu ao lado de dois ladrões, numa cruz. Mas foi fiel. Foi verdadeiro.

2 comentários:

  1. "...Why'd you choose such a backward time and such a strange land?
    If you come today you would have reached a whole nation.
    Israel in 4 BC has no mass communication..."

    Pergunta de Judas a Cristo na peça "Jesus Christ Superstar"

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  2. esses evangélicos pobres de cultura acreditam em tudo que seus pastores dizem, qualquer interpretação da palavra que esses fizerem, será válido, infelizmente como uma cegueira de apaixonado, mesmo que discordem não têm coragem para questionar com seu "líder", parecem anônimos idiotas que gritam, choram, rolam no chão, etc se o pastor mandar,acredito que a parte mais lida da bíblia por esses calhordas é a que fala de dízimo.Compram pedaços de camisas de pastor, compram terrenos no céu, entre outros absurdos, mas, parece que tudo é normal já que foi o pastor quem mandou

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