terça-feira, 9 de agosto de 2011

A primeira geração de pastores brasileiros que estudou fora

Uma ocasião, quando ele (Paulo Autran) estava na novela das seis, na rede Globo, foi internado na “Beneficência Portuguesa” para colocar uma ponte de safena. Na véspera da cirurgia fui visitá-lo e li para ele, dos “Salmos na linguagem de hoje”, o 121, onde se encontra: “O Senhor guardará a tua vida”. Ele me pediu para ficar com o livrinho. Mais tarde, quando fui candidato a vereador (1982) pelo velho PMDB (não o atual), constou da minha propaganda na TV o seu valioso apoio.

A nova compreensão do Evangelho, que incluía essa abertura para o “mundo”, compreendia um novo entendimento dessa palavra que, aliás, em latim significa “limpo”, o contrário de “imundo”, que quer dizer “sujo”. Nas bemaventuranças, a Vulgata Latina registra “Beati mundo corde” para “Bem aventurados, os limpos de coração”. Os evangélicos fundamentalistas separam sagrado e profano, os da Igreja e os do mundo, sem levar em conta que a única diferença entre os crentes e os outros é a de que somos mendigos como eles, mas sabemos onde encontrar pão.

Comprometida com a questão social, representava esta visão um novo enfoque da vida eclesiástica, ao qual especialmente a juventude era sensível e aplaudia com entusiasmo. E esse novo modo de ver advinha do fato de a minha ser a primeira geração de pastores brasileiros a ter a oportunidade de fazer pós-graduação no estrangeiro, o que alargava imensamente os nossos horizontes, antes mais modestos e provincianos.

Na Suíça tive entre meus professores o dr. Fausto Wolff, Nikos Nissiotis, o pastor reformado Hans-Ruedi Weber, Visser’t Hooft e o Rev. Martin Niemoller, para ficar nuns poucos exemplos. É deste último o célebre depoimento: “Primeiro vieram buscar os sindicalistas e eu não fiz nada porque eu não era sindicalista. Depois vieram buscar os comunistas e eu nada fiz por não ser comunista. Levaram os católicos e eu nada fiz porque era protestante. Finalmente vieram me buscar e quando o fizeram não havia ninguém para fazer algo por mim”.