sexta-feira, 11 de março de 2016

A igreja presbiteriana do Brasil a reboque dos novos tempos

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Ainda como seminarista, despertado pela Conferência do Nordeste, de 1962, promovida pela Confederação Evangélica do Brasil e outros eventos que punham em realce a necessidade de maior engajamento da Igreja nas questões sociais, passei a ser visto com desconfiança e acabei tendo que renunciar, juntamente com o Moysés Campos Aguiar Netto, ex-pastor e hoje grande psicólogo, autor de livros e mestre do psicodrama, sendo ele então o vice-presidente da Diretoria da CMPIB. Fazíamos a revista COROA REAL, da qual saíram seis excelentes números, modéstia à parte, graças, também, aos dotes jornalísticos excepcionais de meu amigo Nehemias Spereta Vassão, hoje editor da Revista MACKENZIE.
A Igreja Presbiteriana do Brasil, sempre na retaguarda, no avesso da vanguarda, já dera um “golpe de estado” ao extinguir a sua Confederação da Mocidade e sua magnífica revista “Mocidade”, inaugurando o longo período de obscurantismo que até hoje vive. Percebendo que iam imitá-la na Igreja Independente, o Moysés e eu, estrategicamente, renunciamos, sob forte pressão política, aos cargos da nossa influente Confederação eentão, os caçadores de “comunistas”  se deram por satisfeitos.

"Leve a metade da roupa e o dobro do dinheiro"


Fui presidente da UMPI (União da Mocidade da 1ª Igreja) e redator do seu jornal mimeografado “O UMPISTA” vários anos, em cujas páginas está o primeiro artigo de minha lavra que vi publicado em minha vida, aos 15 anos, intitulado “Saibamos reconhecer o que fazemos de bom”. Depois pertenci à diretoria da Federação da Mocidade do Presbitério, eleito vice-presidente, ao lado do presidente André Luiz Dias Giraldi, que depois se casou com a Beni Becker, irmã da minha primeira namorada, a Anny. Fiquei como secretário executivo da entidade nacional, após o VII Congresso Nacional do Umpismo, em Campinas (1961), sucedendo ao rev. Xel Sant’Anna Graça. Este, amigo do coração, que aposentou-se como capelão da aeronáutica dos Estados Unidos, ao me passar a tarefa, deu-me ótimo conselho : quando for viajar, leve sempre a metade da roupa e o dobro do dinheiro.

Entrou na forma e saiu bolo


Essa compreensão ecumênica somava-se a um amadurecimento em relação ao próprio significado do ministério e fiz uma grande descoberta: enquanto, ainda jovem, eu, por assim dizer, entrara na forma e saíra bolo. Quando passei a enxergar tudo com meus próprios olhos, já não era mais pessoa de confiança de quem estava no poder.
Lembro, então, novamente, o grande matemático e filósofo francês cujo nome latino era Renatus Cartesius (daí as coordenadas cartesianas), que ensinava: na vida, recebemos um cesto cheio de maçãs, que são os valores a nós passados. Ao chegarmos à idade da razão, devemos tirar todas essas maçãs do cesto e analisá-las. As de que gostarmos, pomos de volta no cesto, as que não quisermos, deixamo-las fora.
E assim aconteceu. Antes havia exercido importante liderança, ao lado do meu grande amigo presbítero Josué Pacheco de Lima, presidente da Confederação da Mocidade Presbiteriana Independente do Brasil. Este homem de Deus com um carisma de líder invejável, viajou comigo a muitos lugares e sempre revelou um entusiasmo contagiante. A nossa afinidade e o imenso amor que temos pela Igreja Independente nos mantém com fortíssimos laços de amizade até hoje. Estive em sua casa quando ele completou 83 anos, a 6 de maio último. Infelizmente já não está lúcido nem podendo participar das atividades da Igreja.

Um toró fez mudar os planos


Voltando ao romance na capital paranaense, Cleto, sendo moço e conhecedor da situação, convidou, então, a Mariazinha para irem ao culto da Igreja Independente a fim de conhecerem aquele pastor com 25 anos de quem se falava ser ecumênico e pregar contra o latifúndio, fazendo estudos bíblicos sobre Amós, o profeta da justiça social. Até padres pregavam na sua igreja, coisa que jamais tinha acontecido antes!  Um temporal, porém, inundou a cidade nesse domingo e não puderam ir. Coisas da Providência Divina.
Vivia eu, então, esse novo enfoque da minha fé. Em reunião constante com padres, freiras e outros pastores de diferentes denominações, adquiri o hábito de ouvir a outra parte antes de julgar. Na infância e adolescência sempre ouvira dizer que os católicos romanos adoravam as imagens de escultura, contrariando um dos dez mandamentos. Nunca me esqueço de que o padre Ozir Tésser me disse que isso não era verdade e me perguntou: Você tem aí com você uma foto da Maria? É claro que eu tinha. Mais de uma. “E você não beija essas fotos?”, ele quis saber. “Toda hora”, respondi. “E você acha que, por isso, está adorando a sua namorada? Está colocando ela (sic) no lugar de Deus? Pois, do mesmo modo, quando um católico beija a imagem da virgem Maria, está mostrando sua admiração por uma camponesa que deu à luz sozinha numa estrebaria numa noite de inverno e que teve o privilégio inaudito de ser a mãe do nosso Salvador, nada mais do que isso”.